Adeus Sergio
Hoje estou mal, estou muito mal.
Ontem, sai para jantar e tomar um copo, em Madrid, com a minha esposa e um casal de amigos chegados, ele americano e ela espanhola. Era o aniversário da minha amiga.
A meio do jantar, o telemóvel tocou. Era M., uma amiga do Porto. O facto de ligar a essa hora despertou-me alguma inquietude, ser ela a ligar em vez do marido não era relevante, mas o primeiro impacto da sua voz foi arrepiante. A sua voz estava muito apagada, custava-lhe falar e era triste, muito triste! As suas palavras foram ainda mais arrasadoras.
Sergio, um muito grande amigo comum, tinha tido um AVC e estava internado muito grave e com prognóstico muito grave. Encaixei a má noticia com dificuldade e o resto da conversa foi curta, muito curta. M. não tinha muita vontade de falar e eu estava sem palavras. Não fiz mais perguntas, estava a tentar digerir a noticia e já me imaginava o resto. Agradeci-lhe por ligar e despedi-me.
Fiz de conta que nada se tinha passado para não estragar a velada aos restantes. A minha esposa perguntou-me quem ligou e respondi-lhe que tinha sido M., que depois lhe contava.
"Estamos em Madrid, a 600 km e não podemos fazer nada, é melhor que ela e os restantes desfrutem a noite, já terei tempo para lhes dar as más noticias", pensei.
Entretanto consegui maneira de enviar um SMS a S., esposa do meu amigo, tinham dito para não lhe ligar pois estava no Hospital. Foi uma mensagem curta e simples, "Um abraço forte, amanhã ligamos", nunca sei que dizer nesta ocasiões e muito menos nesta.
Depois de jantar tinhamos ficado em tomar qualquer coisa numa esplanada. Passei a noite a tentar disfarçar o meu incómodo e tristeza o melhor que podia e, ao não ser habitualmente falador, mais ou menos o consegui. Numa altura em que as raparigas foram ao banho, não consegui aguentar e comentei a noticia com A., o meu amigo americano. A. deu-me algum conforto e disfarçou mas, percebendo a minha situação, tentou acelerar o retorno a casa. Ao fim da primeira bebida, ela já estava a pretender algum cansaço e sonolência provocando que nos fossemos todos a casa cedo.
Não consegui dormir nessa noite e chorei de desespero e tristeza.
Sergio era um amigo!
Um amigo no significado mais puro da palavra!
Conhecia-o desde antes de conhecer a minha esposa, desde há mais de 20 anos. Antes de me mudar para Madrid estavamos juntos quase todos os dias, saiamos, jogavamos futebol, juntavamos as familias, passavamos férias juntos.
Conheci a sua esposa muito antes de ele a conhecer, tinha ela uns 13 anos. As nossas esposas são muito amigas e o seu filho de 7 anos é um dos melhores amigos do meu filho de 6, isto apesar da distância fisica que os separa. Estavamos a estudar uma possibilidade de começar um negócio juntos.
Hoje pela manhã liguei á S., sua esposa. Devia transmitir-lhe forças e o único que consegui foi chorar. Não consegui manter as forças e choramos juntos pelo telefone. Foi demasiado intenso e demasiado triste!
Costumo controlar-me muito nestas situações, mantenho-me aparentemente calmo e controlado, embora por dentro possa estar a sofrer muito. Como é costume dizer, sofro para dentro.
Desta vez não o consegui e deixei-me levar pelo desespero.
Está em estado de morte cerebral e só um milagre o pode salvar. Apenas uma máquina o impede de ...
Ai que tristeza tão grande. Porquê? Porquê ele?
Das muitas pessoas que conheço, era um daqueles a quem nunca imaginaria que lhe acontecesse uma coisa destas.
Era magro, praticava muito desporto e não tinha problemas de saúde.
Porquê ele?
Amanhã desligam-lhe a maquina.
Acabou!!
Adeus Sergio!! Adeus amigo!!
Não te esquecerei nunca.
1 comentário:
ZumZum
Realmente... não há como manter o bom humor numa situação destas. E nunca há muito a dizer.
Lamento muito...
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