Insulto á moda do Porto
No Porto enraizaram-se alguns hábitos linguísticos que os seus habitantes utilizam recorrentemente e que causam algum embaraço a habitantes de outras cidades do pais.
Assim, entre amigos e conhecidos são vulgares os tratamentos carinhosos tais como:
- “Então, meu grande filho da puta, que é que tens feito?”
- “Anda cá, ó meu caralho.”
- “Ó grande cabrão de merda, venha dai um abraço!”
Ainda me recordo dum episódio curioso ocorrido numa das minhas despedidas de solteiro (o plural nas despedidas de solteiro significa apenas que tive de festejar com grupos de amigos diferentes e com alguns mais do que uma vez, mas referem-se todas ao meu único casamento que se mantém de boa saúde), em que tinha chegado a casa já de madrugada e com um avião tal que, assim que cheguei à cama, aterrei e já não dei mais sinais de vida. Como tenho a deformação profissional de nunca desligar o telélé (creio que a empresa e os clientes me merecem essa consideração por pagarem as contas) e tenho o habito de tirar as coisas dos bolsos antes de me deitar (curioso que existem hábitos que cumprimos mesmo estando completamente bêbados) e o telemóvel foi parar ao seu lugar que é na mesinha de cabeceira. Pouco mais de ½ hora passava desde que tinha aterrado, seriam umas 6h30 da manhã, quando o telemóvel começa a tocar. Com a carga que levava nem sequer dei por ela, e como nesse dia tinha ido dormir a casa dos meus pais, o meu pai acabou por se levantar e atender. A primeira coisa que ouviu foi qualquer coisa como:
- Então pá?! Onde é que andas meu grande caralho?! Tenho de te ir buscar ó filho da policia? Estive a noite toda á tua espera e não apareceste e ainda temos de ir fechar a merda da Industria.
Ao que o meu pai, com toda a educação que sempre o caracterizou, respondeu:
- Desculpe, queria falar com o Fernando? Aqui é o pai, se me deixar recado eu depois digo-lhe, porque não creio que o consiga acordar agora.
O meu amigo ficou um pouco encaralhado (expressão tripeira típica), desculpou-se e escapou da situação como pode.
Neste episódio não aconteceu mais nada digno de grande ressalva, pois o meu pai encarou tudo como absolutamente normal, mas o embaraço inicial do meu amigo no casamento, 2 dias depois, foi notório. O que ficou para a história, foi que, apesar de já o conhecer perfeitamente e saber o seu nome completo, desde esse dia e ainda hoje, o meu pai continua a referir-se a este amigo como “o meu caralho”.
Dado esse uso excessivo de expressões tidas como insultuosas no nosso vocabulário corrente, começamos a recorrer à imaginação quando queríamos verdadeiramente insultar alguém, de modo a que o sujeito se sentisse verdadeiramente atingido. Eis alguns exemplos que me parecem verdadeiras obras de arte:
- Corta a tua mãe aos bocados e vai fazer um arroz de puta!!!
- Vai-te catar ó piolhoso!!
- Vai apanhar na bolhinha!
- Andas a pedir que te pintem o cu de branco, seu panasca!!
- Tens o cérebro ligado directamente ao intestino!
- Vai brincar com a pilinha!!
- Vai-te lavar por baixo, ó porco!
- Pega num saquinho e vai apanhar piças.
- Vou-te fazer a barba à bofetada!!
- Vai-te foder seu grandessíssimo filho de uma vaca!!
- És o resultado de um peido mal dado, seu cagalhoto.
Qualquer contribuição a este ainda curto compêndio do bem insultar, será generosamente retribuída com um:
“Foda-se, caralho, não me lembrei desta!!!”
Para quem quiser aprofundar o seu vocabulário tripeiro, eis alguns links:
http://trazoutroamigotambem.blogs.sapo.pt/41793.html
http://trazoutroamigotambem.blogs.sapo.pt/42152.html
http://endireitaotorto.blogs.sapo.pt/tag/porto+e+lisboa
3 comentários:
ZumZum
Não é bem assim! Nem todos os nortenhos dizem asneiras em carreirinha.
Eu, por exemplo, não digo asneiras, mas o meu vizinho... caralho! É em carreirinha!
Fosca-se, o maltês é um aprendiz
e no alentejo semos uns santinhos.
Eu também digo-as em carreirinha e sou um lisboeta do cara...
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